4.8.10

Autumm

(ou quando eu ainda escrevia estórias de amor)

Era um dia de verdade
Outono, imagino
Muitas folhas secas pelas calçadas
Muitas árvores de tom marrom
Frio... De se passear por aí sem destino certo
Ela nunca realmente fez questão de grandes coisas
Nunca quis ser a melhor
Mas gostava de sentir que não queria ser ninguem alem dela mesmo
Só queria poder sentir nostalgia, alegria, melancolia, ansiedade, saudade
Dar um toque no seu dia
Inventar no meio dele uma pizza, uma caminhada, um livro muito bom, uma visita, um novo penteado
Seja qual pequena que fosse, devia haver uma emoção
Uma melhora
Um tempo pra se sentir mais feliz
Só queria mesmo era passear num dia de outono
Ah, não há nada mais bonito que as folhas espalhadas e voando entre os pés
Pedir um café pra viagem, acender um cigarro
Parar numa praça meio deserta, ou debaixo de uma árvore
Capuccino, grama, árvore, ela senta e se encolhe dentro do casaco por causa do frio
Acende um cigarro
Ele vem e pede o isqueiro
Calças justas, que moderninho, cabeludinho, blusão de frio
- Empresto
Ele não tinha perguntado, só gesticulado com a mão um isqueiro imaginario acendendo o cigarro que já estava na sua boca, é claro que ele queria o isqueiro emprestado, mas por que não retribuiu o sim em silêncio? E por que diabos ainda não pegou o isqueiro para lhe dar?
- Então... - Disse ele com um pouco dificuldade, pois o cigarro continuava na boca.
- Senta aqui
Ele sentou, sorriu, com o mesmo nível de dificuldade por causa do cigarro. Mas ok, cadê o isqueiro, eu só queria o isqueiro, não estava te paquerando
E no silêncio ela pega o isqueiro do bolso do casacão e acende pra ele finalmente.
- Qual o seu nome? - Já que estou sentado aqui mesmo, pensou.
- Catarine, e você?
- Lucas.
- Quer capuccino?
- Aceito.- Deu um gole
Que ousadia, era por educação, ah mas que boca.
- Que boca - Disse ela sorrindo.
- Que?
- Oi?
- Que você disse?
- Ahn?
- Sobre minha boca...
- Quer ir comigo comer esfiha?
- Tá, você paga.
- Tá
- Brincadeira
- Tá, então você paga.
Atrevida!
Andaram nas ruas, ah, já lhe disse como ficam lindas no outono? Cenário de filme.
Chegaram, pediram pra viagem, sairam, e voltaram para o banco da praça.
Essas pessoas que não conseguem ficar entre 4 paredes por mais de 10 minutos.
Deve ser por causa do outono.
Comeram, deliciaram-se, sujaram-se, encheram-se.
- Vamos deitar, comi que nem um porco.
- Você é uma porca. Sorriu
- Você é lindo.
Sorriu envergonhado. Vergonha ainda? Conheci ela a menos de uma hora, e já sinto que posso ser quem eu quiser perto dessa criatura estranha, ela  me deixa a vontade, mas não para de me paquerar. E é uma porquinha linda.
Ele a abraçou na grama e sentiu o cheiro dos cabelos, cheirinho de quem acabou de lavar, perfume bom, fechou os olhos, aqueceu os bracinhos da porquinha e soltou um suspiro de super-bem-estar.
_ Cat...
- Hm?
- Tenho que ir, Catinha.
- Não
- Sim, tenho mesmo
- Mas eu não quero
- Nem eu
Ela soltou ele, então. Ah, não queria que ele fosse, mas ele iria um dia, todo mundo vai um dia.
Ele beijou-lhe a testa e sentiu novamente o cheiro de seu cabelo, levantou e disse
- Me encontra 10h no metrô?
- OK. Sorriu ela se espreguiçando ainda na grama preparando-se para levantar.
Ah, aaaaaaah, 10h OK. Muito OK!

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