17.6.11

O dia em que o amor não era o suficiente e ela partiu

Já eram quatro anos de um namoro estável, com poucas brigas, muitas noites enluaradas, muitas horas na cama, muitos cafés da manhã com panqueca caseira, pouquíssimas cenas de ciúmes, algumas cenas de vasos quebrados, trocentas noites em claro, e mais alguns meses além dos quatro anos.
Ela estava sentada e pintando.
Ele olhava a cidade pela janela, pequenas luzes vermelhas.
Ela levantou e foi preparar chá.
Ele disse: - Eu acho que tá faltando emoção.
- Oi?
- Emoção, no nosso namoro, está faltando alguma coisa.
- Por que isso do nada?
- Não é do nada, já estou pensando nisso a algum tempo, mas você tem essa mania de sempre querer que tudo esteja bem, não brigar pra não "manchar nosso amor", mas isso estragou tudo.
- Não põe a culpa em mim, eu não sei de que merda você tá falando, eu te amo, achei que estava tudo bem.
- Eu te amo também, só acho que se a gente desse um tempo, sei lá.

Ela foi até o quarto e juntou algumas coisas na bolsa, não levou mais que 30 segundos, a xícara de chá na mão esquerda.
-Vai a merda.
Abriu a porta e deixou a xícara no chão, foi embora.
Ele continuou olhando as pequenas luzes vermelhas através da janela por um tempo, deixou a porta aberta, ela devia voltar logo, foi dormir.
Mas no outro dia o chá frio ainda estava entre o corredor e a porta aberta. Ele ligou pra ela, o celular estava na sala, ele só podia esperar, logo ela voltaria.
O primeiro dia ele voltou pra cama, a porta aberta, o chá parado, 3 formigas passeando entre ela, ele na cama, acordou de tarde, pediu comida chinesa, leu, dormiu.
O segundo dia ele acordou cedo, colocou a xícara na cozinha, foi trabalhar, fechou a porta, ligou pra família dela, amigos delas, ninguém sabia dela , ligou pro próprio apartamento, mas só chamou. Voltou pra casa, fechou a porta, mas não trancou a porta, ela provavelmente logo estava voltando. Preferiu não jantar, foi dormir.
O terceiro dia acordou com um aperto no coração, foi trabalhar, trancou a porta mas colocou a chave debaixo do tapete como eles sempre faziam, não ficou muito no trabalho, foi procurar ela no trabalho dela, ela não estava. No terceiro dia ele comeu um pão que lhe desceu seco, ele lavou a xícara de chá. A noite ele chorou.
O quarto dia ele acordou com ela chegando, o simples barulho da chave abrindo a porta acordou ele, ele correu e abraçou ela.
- Onde você tava, porra?
- Eu estava por aí, precisava pensar, precisava enlouquecer e juntar os pedaços depois.
- Me desculpa?

Nenhum comentário:

Postar um comentário